Conheceram-se, entre trocas de olhares curiosos e discretos sorrisos maliciosos, numa festa de casamento, de improváveis amigos em comum. E desde aquele final de tarde ameno, não se largaram mais. A misteriosa Angelina sentiu uma atração por Jhon, homem entediado, maduro, de posses, casado e com filhos. Ambos, os dois gravitavam em universos sociais diferentes e alheios um ao outro. Encontravam-se quase todos os dias, sem levantar suspeitas, pois moravam na mesma cidade e no mesmo bairro. Literalmente bastava um assobio curto dele, logo ela saia ao seu encontro, sempre no mesmo lugar, sempre à mesma hora, no convulso centro comercial da cidade. Geralmente iam a um lugar ermo, dentro do carro de Jhon e, no dia claro, ela se entregava totalmente para ele! O gosto da aventura e os sabores do perigo encheram de vida, os corações e mentes do casal ocasional. Apesar de ser casado, Jhon nutria uma paixão intempestiva por Angelina, o limite da aventura pura e simples tinha sido ultrapassado.
E toda aquela atração sexual foi crescendo, ambos não conseguiam ficar mais longe um do outro. Então, em um rompante ele resolveu alugar uma casa, no limiar entre o centro urbano apoplético e a calmaria bucólica da zona rural. Lugar onde pudessem viver juntos, como amantes clandestinos sem chamar a atenção. Aquela que seria uma breve aventura perigosa acabou se tornando uma ardente paixão desmedida, estava virando doença!
Jhon tratava Angelina como se fosse sua propriedade particular. E quando saia para o trabalho, ou passar mais tempo com os filhos, algemava a amante na cama para que não pudesse fugir, pois seus ciúmes eram exagerados. Angelina parecia gostar de tudo aquilo, era refém de sua própria demência, virou serva submissa de Jhon, ambos pareciam doentes!
Toda aquela paixão virou dependência, como se fosse uma droga, como se fosse uma obsessão, não existia mais vida, afetaram as próprias famílias. John já não se importava mais com a esposa e os filhos. Quanto a Angelina, gostava de ser algemada, machucada física e emocional. Vivendo sob as loucuras dos amantes sem limites. Como entender!?
— Vai sair meu amor!? — Perguntava Angelina um certo dia qualquer.
— Sim, mas logo volto. — A resposta vaga e monótona fez tremer Angelina do seu cerne mais profundo, no âmago mais abissal da jovem.
— Jhon volte! Você se esquece de me algemar!
Ela gostava da sensação de ser possuída! A atração entre os dois foi ficando perigosa, toda aquela insanidade foi tomando conta da mente deles. Enfim, não viviam mais. Famílias!? Deixaram-nos e ficaram os dois sozinhos vivendo no limbo existencial. Mas, também havia como companhia fiel, pairando no ar, uma leve sensação de vergonha! Sentiam-se envergonhados com aquele relacionamento. E assim ficaram vivendo por um bom tempo como se somente eles existiam.
Fabiane Braga Lima/ Rio Claro, São Paulo
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